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 DISCURSO DO SENADOR PEDRO SIMON

  

DISCURSO DO SENADOR PEDRO SIMON

Em 5 DE  NOVEMBRO DE  1999 - Dia do Radioamador

  

Senador Pedro Simon !

  Foto: Senado Federal - www.senado.gov.br 

  

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS)

  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. da direção dos radioamadores de Brasília e do Brasil, comemora-se hoje, 5 de novembro, a data dedicada aos radioamadores. Aproveito esta oportunidade para enviar os meus cumprimentos aos milhares de radioamadores que, espalhados por todo o Brasil, têm prestado tantos e tão relevantes serviços a este País.

 

Embora o radioamadorismo seja uma atividade essencialmente voltada para a intercomunicação e à pesquisa técnica, são freqüentes as oportunidades, especialmente por ocasião de grandes catástrofes e acidentes, em que seus praticantes utilizam transmissores e receptores para auxiliar pessoas ou comunidades. Mesmo quando circulam pelas rodovias em seus automóveis, os radioamadores, muitas vezes, conseguem mobilizar com grande rapidez e eficiência os recursos necessários ao socorro de pessoas feridas em desastres automobilísticos.

 

Na minha opinião, o mais importante é que esse serviço é sempre prestado de forma desinteressada. O que move os radioamadores é a solidariedade, é o amor ao próximo. Numa ocasião como esta, não poderia deixar de recordar os extraordinários feitos do padre gaúcho Roberto Landell de Moura, o pioneiro mundial na transmissão à distância das voz humana, sem utilização de fios.

 

É interessante destacar que o inventor italiano Marconi, que agora goza de fama internacional muito maior do que a do brasileiro, foi pioneiro na transmissão de sinais telegráficos, ou seja, o invento de Landell de Moura teve uma dimensão bem maior, porque se tratava da transmissão da voz, um significativo avanço em relação a Marconi.

 

Nascido na cidade de Porto Alegre, em janeiro de 1861, Roberto Landell de Moura fez toda a sua formação eclesiástica em Roma, onde ordenou-se em 1886, quando retornou ao Brasil. Por aqui exerceu as suas atividades religiosas e também científicas até sua morte, na sua cidade natal, quando já era monsenhor.

 

As vitoriosas experiências do padre Roberto Landell de Moura tiveram lugar em São Paulo, em 3 de junho de 1900, sendo amplamente divulgadas por jornais da época. Diz o Jornal do Comércio, de 10 de junho de 1900, que "do alto de Santana, cidade de São Paulo, o padre Landell de Moura fez uma experiência particular com vários aparelhos de sua invenção, no intuito de demonstrar algumas leis por ele descobertas no estudo da propagação do som, da luz, da eletricidade, através do espaço". Essa demonstração em São Paulo chegou a ser assistida pelo embaixador britânico no Brasil, Sr. P.C Lupton.

 

Depois de ter obtido as patentes brasileiras de suas invenções, em 1901, o padre Roberto Landell de Moura viajou aos Estados Unidos, onde solicitou e obteve, já em 1904, patentes para um transmissor de ondas, um telefone sem fio e um telégrafo sem fio. O jornal New York Herald fez, em 1902, uma extensa reportagem, ressaltando o trabalho do cientista brasileiro.

 

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Parlamentares, sempre me impressionou o fato de o padre Roberto Landell de Moura ter sido um cientista brasileiro, pioneiro, embora vivendo no Brasil. Como se sabe, a produção científica daquela época estava concentrada na Europa e nos Estados Unidos, mesmo assim o inventor gaúcho tomou a dianteira do seu tempo, o que prova que, em muitos casos, a genialidade de um homem e sua dedicação à causa da ciência pode representar mais do que a existência de vastos recursos técnicos ou financeiros.

 

Mas, no momento em que faço o elogio a Roberto Landell de Moura, também tenho em mente que, lamentavelmente, os governos brasileiros, um após outro, vêm tratando com grande descaso a ciência e a tecnologia. Hoje, mais do que nunca, as nações mais ricas e desenvolvidas são aquelas que dispõem dos maiores recursos técnicos e científicos. O Brasil, infelizmente, destina poucos recursos a essas áreas. Está na hora de mudar. O Brasil tem que investir em ciência e tecnologia sob pena de ficar para trás, de ser condenado a uma posição secundária no cenário das nações.

 

Reafirmo a minha saudação de modo especial, Sr. Presidente, aos radioamadores brasileiros, que tantos serviços têm prestado a este País e que provam, com sua atividade, que a solidariedade é ainda um valor muito cultivado entre nós.

 

Estamos vivendo um momento muito difícil, Sr. Presidente. O Ministro da Justiça faz um apelo no sentido de que o Congresso Nacional, o Poder Executivo e o Poder Judiciário se unam no combate ao crime organizado, que está avançando e se organizando neste País. Com relação ao narcotráfico, nós imaginávamos que o Brasil fosse apenas um corredor de passagem do tráfico, entretanto, lamentavelmente, verifica-se que temos núcleos locais de grande coordenação. Portanto, olhando para todos os Poderes e todos os segmentos da sociedade, ficamos a nos perguntar: para aonde vamos? O que fazer? 

 

Sr. Presidente, baseado nas várias experiências que podemos apresentar, nas várias fórmulas que observamos em torno de nós mesmos, quando se fala que temos que buscar a solidariedade, quando se fala que o Brasil deve ter a presença de seus filhos, quando se fala que não podemos esperar que a solução venha apenas dos governantes, mas que temos que transformar a sociedade brasileira, parece-me que, olhando para os radioamadores, vemos ali um setor que é um exemplo de trabalho. Neste País, cada um deveria fazer a sua parte; neste País, cobra-se das autoridade que elas façam, mas não fazemos o pouco que deveria fazer cada um.

 

Lamentavelmente, tenho repetido muito isto: no Brasil, ao contrário de vários países do mundo, a participação da comunidade na busca do bem da sociedade e do País é muito pequena. Primeiro, porque o Governo não se preocupa; segundo, porque não há esse sentimento, não há essa formação de se entender que o Brasil é nosso e que cada um deve fazer a sua parte.

O brasileiro é tratado como alguém que não tem maior significado. Ele é olhado à véspera da eleição para dar o seu voto; depois, cada um que siga o seu caminho.

  

Para termos o Brasil que sonhamos, o Brasil onde haja participação, o Brasil onde o cidadão tenha a cidadania; em que tanto o cidadão da favela, o mais humilde, como o mais importante tenha orgulho de ser brasileiro e se sinta dono da sua terra e participativo do desenvolvimento do seu País; o Brasil que busca esse trabalho participativo, esse trabalho voluntário e espontâneo, se olharmos alguns exemplos aqui e acolá do que já é feito e do que pode servir de exemplo para alcançarmos o nosso objetivo, devemos ter como exemplo os radioamadores.

 

O radioamador é um cidadão que encontra alegria e prazer se comunicando, participando e ajudando. Ele está ali, na sua casa, com o seu equipamento, falando com o Brasil e com o mundo; identificando-se, buscando conversar, analisar, debater, discutir e, basicamente, sempre que possível, ajudar. No nosso Rio Grande do Sul, é impressionante o número de radioamadores; é impressionante o trabalho que eles prestam, a sua dedicação e a preocupação que têm no sentido de ajudar, no sentido de colaborar. Se há um acidente lá no interior, onde muitas e muitas vezes não há absolutamente outra forma de comunicação, é o radioamador quem transmite a informação. A pessoa que a recebeu, então, sai de casa e vai à procura daquele a quem a notícia é destinada. A informação, às vezes, é triste, mas necessária e importante; outras vezes, tem-se a oportunidade de salvar uma vida.

 

Olha, que serviço, que espírito de dedicação profunda é esse que faz essas pessoas se sentirem felizes executando esse trabalho? Numa época em que muitas vezes encontramos a felicidade no gasto, no prazer, na concentração de riqueza, quando se sai por aí com mil fórmulas de diversão e de distração que o mundo oferece?! Essas pessoas encontram prazer exatamente na solidariedade, na dedicação, no afeto, no trabalho participativo. Essa é a maneira de se sentirem felizes.

 

Tenho dito sempre que a felicidade é um estado de espírito. A felicidade não está no dinheiro, nem no poder, nem na riqueza, nem na beleza. A felicidade está em se fazer algo e se sentir feliz por fazê-lo. Alguns entendem que são felizes exercendo o poder; às vezes, sendo tiranos, como Hitler; outros querem se perpetuar no poder, buscando a reeleição, tentando ficar a qualquer preço; outros encontram a felicidade no dinheiro. Crescer, desenvolver, ser mais rico, mais poderoso, mais portentoso, com mais força; outros encontram a felicidade em fazer a sua parte. Gente simples, mas gente honrada; gente simples, mas gente feliz. Um trabalhador, um funcionário público, um pequeno empresário, um comerciante do interior, um aposentado; mas está ali com a sua mulher, com os seus filhos, com a sua família. Está ali com a sua renda média, enfrentando o dia-a-dia das dificuldades, que, se de um lado, leva muitos brasileiros à miséria, de outro, faz com que muitos da classe média também sintam os seus efeitos. Porque eles têm que manter um status quo. 

  

O cidadão da classe média tem uma casa - ou dele ou alugada - e tem que mantê-la. Ele tem os seus filhos na escola e deve mantê-los na escola; ele tem que ter uma aparência. Se trabalha, se é funcionário, tem que manter uma aparência, usar uma roupa normal, porque, se ele aparecer em frangalhos, não será recebido. 

  

Muitas vezes tem sido difícil manter esse status de classe média. Mas há pessoas que conseguem mantê-lo, que enfrentam essas dificuldades e se sentem felizes; sentem-se felizes prestando serviços, como é o caso dos radioamadores. A felicidade é pura, cristã, bela em fazer algo que é útil, que os deixa tranqüilos falando com o mundo e colaborando, sempre que possível, para ajudar o seu semelhante. 

 

No dia em que, neste Brasil - assim como os radioamadores têm uma ocupação e exercem uma atividade, somando para a ação -, cada um de nós fizer a sua parte, no dia em que os milhões de brasileiros - cada um trabalhando para si; é importante que o façam para o sustento da sua família - encontrarem uma parcela de tempo para trabalharem para a sociedade, o País será bem melhor. 

 

Uma determinada revista publicou - não me lembro qual - várias páginas sobre uma senhora da alta sociedade do Rio de Janeiro que fez um festa de arromba para comemorar o aniversário do seu cachorrinho. E a alta sociedade, a alta burguesia se sentiu importante e brigou, disputou um convite para entrar nessa festa. Lá estavam as fotografias das senhoras com jóias e tudo o mais.

  

Lá estava o cachorrinho ou a cachorrinha, não sei; o rei ou rainha da festa! Vestia um modelo especial. Não foi nem comprado nas butiques que se vêem em Brasília, com preços caríssimos, para roupas de animais. A dela não; a dela foi um modelo exclusivo, feito especialmente para a ocasião por um figurinista.

 

Lá estava numa festa memorável, festejando o aniversário da cachorrinha! Disse ela: "O dinheiro é meu. Faço o que quero com o meu dinheiro".

 

Talvez não exista no mundo um país como o Brasil, onde haja tantas pessoas criando animais de luxo, como nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Em vez de criarem animais de luxo, poderiam estar criando uma criancinha que está na rua.

 

É por isso que digo: se cada um fizesse a sua parte, quão diferente seria este Brasil. Se tivéssemos a sensibilidade de olhar para os lados e pensar no que eu posso fazer, e não olhar e dizer que isso não é missão minha, como seria diferente este País.

 

É por isso que, neste momento, fico muito feliz por levar o meu abraço aos radioamadores de todo o Brasil, pelo seu dia, e de lhes dizer que, no que for possível, temos que fazer o máximo de esforço para que o Ministério das Comunicações e o Governo brasileiro permitam que exerçam a sua missão e que levem adiante o seu trabalho. Até acho que algo a ser discutido é se o Governo não poderia, nos seus vários projetos de auxílio social, dialogar com a direção dos radioamadores e ver o quanto mais eles poderiam ajudar em vários projetos do governamentais, se o Governo assim o quisesse.

  

Encerro muito tranqüilo, Sr. Presidente. Que bom que, em meio a tantas notícias ruins, a tantas questões lamentáveis, possamos olhar para a sociedade brasileira e ver que há um grupo unido e coeso pelo ideal e pelo sentimento, e que a sua alegria consiste em fazer o bem e estender a fraternidade a toda a sociedade. Que bom será o dia em que esse exemplo não for mais algo isolado, até meio esquecido, mas apenas o exemplo de uma facção da sociedade, a exemplo de outras tantas que também podem fazer a sua parte.

  

Muito obrigado, Sr. Presidente. 

  

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