ILHA DA TRINDADE 2002.

Operar de um raro país é o sonho de qualquer radioamador envolvido no fascinante mundo do DX.

Face as curtas operações que sempre ocorreram desde a Ilha da Trindade ( PYØT ) sonhávamos com a possibilidade de realizarmos o grande feito do radioamadorismo nacional que seria um grande número de operadores gabaritados operaram por no mínimo 10 dias, retirando definitivamente Trindade da lista dos mais procurados no DXCC.

Nossa expedição começou a criar forma na convenção de Dayton em 2001, quando André, PYØFF, Atilano, PY5EG e mais alguns radioamadores internacionais começaram a traçar planos.

PY5EG com as suas boas relações com a Marinha iniciou os contatos e alguns meses depois recebeu a informação de que possivelmente uma viagem para Trindade, com duração maior aconteceria no início de 2002.

Ficamos todos eufóricos com a notícia e planejávamos anunciar a expedição oficialmente no encontro de DX realizado em Praia de Leste, no jantar de premiação aos destaques do Araucária. Para nossa surpresa um dia antes do anúncio oficial, em bate papo descontraído com alguns colegas do Rio Grande do Sul, nos foi informado que um grupo composto por vários radioamadores PY3 estaria indo para Trindade em Dezembro e ficariam lá 2 meses. A notícia caiu como um balde de água fria em todo nosso grupo, pois não fazia sentido se organizar uma mega operação, se dois meses antes houvesse qualquer atividade da ilha.

O tempo foi passando e não tínhamos informações sobre a expedição PY3. O nosso prazo estava se encurtando e até a nossa ida estava ficando comprometida.  Passou-se o Natal e as festas de final de ano e nada. Já estávamos quase que conformados com a não ida. No dia 15 de Janeiro recebemos email de PY5EG informando que a Marinha confirmou a ida para Trindade e que a viagem levaria mais dias que normalmente.  Tínhamos em mãos uma chance enorme de ir e fazer a operação de nossos sonhos, mas devido ao atraso que tivemos na confirmação da expedição quase não tínhamos tempo hábil para organizar tudo pois a partida seria dia 15 de fevereiro no Rio de Janeiro. Em troca de email com PYØFF aceitamos o desafio de organizar tudo em tempo recorde. Era uma luta contra o relógio e teríamos que providenciar tudo, desde gerador, baterias, antenas, mastros, equipamentos, transporte do material, reservas de passagens, etc... e tudo teria que estar no Rio antes do Carnaval, dia 8 de fevereiro, no máximo !!

O time de operadores ficou definido da seguinte forma: André PYØFF como Team Líder, Fred PY7ZZ, Jim PY7XC, Xavier PY7XC, Elizio PT7BZ, Hermínio PY5HSD,  Dick N6FF, Bill W9VA, Rolf PY1RO e Peter PY5CC. Tínhamos vagas para mais 2 operadores, mas devido a dificuldade em ficar longe de casa por 25 dias não conseguimos preenche-las. Sentimos de Atilano PY5EG não poder ir conosco.

Cada membro da equipe ficou encarregado de determinados itens. Se não houvesse um esforço concentrado de todos não conseguiríamos cumprir o nosso cronograma. PY5EG e PYØFF ficaram na coordenação.

No dia 23 de janeiro, Peter PY5CC, viajou ao Rio para reunião uma com a Marinha. No encontro participaram o pessoal do Distrito Naval e comandantes do navio Mattoso Maia e teve a finalidade de traçar as metas para o embarque e viagem. Fomos informados a forma do embarque e data prevista para zarpar do Rio e alguns pequenos detalhes foram esclarecidos. Após a reunião participou de agradável almoço e bate papo com Marcelo PY1KN.

Para surpresa de todos,  em 3 semanas conseguimos organizar tudo e o material estava no Rio de Janeiro na Base Naval esperando para ser embarcado. Rolf PY1RO teve papel  fundamental na tarefa de acompanhamento de todo nosso material desde a chegada na cidade até o embarque e providenciou o que faltava.

Alívio geral do grupo pois conseguimos a nossa primeira vitória que era organizar tudo. O coração começava a bater mais forte e tínhamos somente uma semana para colocarmos a vida pessoal em ordem e programa-la para uma ausência de 25 dias. O agravante era que no Carnaval nada funcionava. Mas era a expedição de nossas vidas e tudo estava dando certo!

Na segunda feira de Carnaval o pessoal do Nordeste chega ao Rio e é recepcionado por Rolf e Sonia. Quarta-feira chega o Bill e na quinta Dick, Hermínio e Peter. Time de operadores completo aguardando embarque no dia seguinte. Na noite de quinta-feira tivemos um delicioso jantar de despedida numa churrascaria na Ilha do Governador, o qual contou com todo o grupo a mais de Atilano PY5EG e de Ronald PY2FUS.

Chegou o dia!. Fomos para a Base Naval do Rio. Conhecemos o Mattoso Maia que nos levaria para Trindade.  Para surpresa de todos um belo navio de desembarque de carros de combate com aproximadamente 150 metros de comprimento. Nos apresentamos ao Imediato, Comandante Gentil e posteriormente ao Comandante Tarso. Seguimos para nosso alojamento e aguardamos pela partida que aconteceu no final da tarde do dia 15, sexta-feira.  

Na saída da baía, pousaram no convés do navio, 2 enormes helicópteros que fariam o desembarque de pessoal e material na ilha. No total o navio carregava mais de 500 toneladas de material que seria deixado em Trindade. 

A viagem transcorreu de forma tranqüila pois o mar estava bem calmo e o único contratempo foi com Fred PY7ZZ que baixou na enfermaria do navio pois estava passando mal. Após a devida medicação ele ficou novinho em folha. Vale ressaltar o excepcional tratamento e acolhida dada a todos os membros do Araucária DX Group por parte da tripulação do navio.

Instalamos o sistema Irridium para envio de mensagens pela internet via satélite e também uma antena nos convés do navio para operarmos /MM.  

O tempo parecia que não passava e nossa ansiedade aumentava. Nada de chegar na ilha. Após quase 3 dias de viagem, na madrugada de 18/02 avistamos finalmente Trindade.  Começava ai o trabalho de desembarque do navio feito por 2 helicópteros que levaram além do material da ilha, quase 2,5 toneladas de equipamentos do Araucária Dx Group.  

Finalmente por volta das 10 horas da manhã, toda a equipe se encontrava em terra firme, fomos nos apresentar ao comando do POIT ( Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade ) e aguardamos a autorização do Comandante Elmo, para instalar as antenas e equipamentos. O local escolhido foi a estação meteorológica. Melhor impossível, para se operar. Sem obstáculos para a Europa, Estados Unidos, África e Japão. Infelizmente bloqueado para o sul do Brasil com montanhas de 600 metros. Estávamos a 100 metros do mar !.  

Começava o árduo trabalho de montar e preparar tudo. Hermínio, PY5HSD e Peter – PY5CC trabalhavam com as antenas. Primeiro a 5 elementos tribanda doada pelo Dirceu – PY5IP, depois a 3 elementos tribanda da Electril. Os demais companheiros trabalhavam na montagem dos amplificadores, rede de computadores, cabos, conectores etc... Em 3 horas estávamos em condições de operar. Por volta das 21:00 Gmt, Fred PY7ZZ dá o primeiro CQ em 14.160 SSB. Para nossa surpresa quem nos atende foi o PY5IP, justamente o dono da 5 elementos, hi !.  Uma hora mais tarde, 6 metros também entrava no ar com sinais de até S9+50Dbs na Europa! Daí em diante foi uma loucura durante os 13 dias em que PWØT ficou no ar.  

Um grupo seleto de operadores, especialistas em cada área, pela primeira vez, para alegria de todos, ativa PSK31, RTTY, SSTV, SATÉLITE e realiza larga operação em 6M e bandas baixas. Destaque especial para 160 e 80 metros que face a habilidade operacional de PY1RO, N6FF e PY7XC aliado ao excepcional rendimento da antena direcional de fios construída pelo Jim PY7XC proporcionou milhares de contatos em nosso log.

O tempo passava muito rápido e os pile-up’s continuavam o que demonstrava a necessidade do mundo do dx por Trindade.

Os log’s seguiam diariamente pela internet via satélite juntamente com atualizados boletins recheados de fotos que serviam para ilustrar a nossa home page.  

Tentávamos atender todos da melhor forma possível evitando privilegiar ou discriminar qualquer região do planeta. Estávamos na face nordeste da ilha o que nos ajudava em muito para a Europa e Japão. Incrível como os japoneses entravam o dia todo com sinais fantásticos. A propagação para os Estados Unidos ficava aberta também o dia todo. Éramos obrigados a interromper os pile-up’s e tentar trabalhar determinadas regiões difíceis como o Pacífico, África, Oceano Índico e acreditem, Brasil !. Mas mesmo assim a reclamação foi grande principalmente por parte dos americanos. Face a isto surgiu a idéia de tentarmos uma prorrogação de mais 2 dias em nossa estada na ilha. Sabíamos que era muito difícil mas seria uma excelente oportunidade de realizarmos a primeira operação Multi-Operadores, Single transmissor deste raríssimo país.

Já havíamos começado a desmontar a estação na sexta feira dia 01 de março e a partida estava prevista para o dia seguinte pela manhã bem cedo. Restava desmontar a última tribanda quando para nossa surpresa recebemos informação do adiamento da partida. Eram aproximadamente 21:00 gmt quando fomos informados pelo comando do POIT. Lá vamos nós novamente desempacotando os equipamentos e configurando a estação para o concurso. As 00:00 Gmt de 02 de março, Peter-PY5CC começa o ARRL DX SSB CONTEST num ritmo acelerado e para surpresa de todos, pois já tínhamos anunciado que faríamos QRT. Foram 48 horas de operação, trabalhando somente americanos e canadenses. A outra estação localizada na estação de rádio da ilha operava em CW, com os equipamentos doados para a Marinha pelo Grupo Araucária, que consistiam em um FT 847 completo, bateria de 150A com carregador e uma antena Electril Tribanda.

Findo o concurso recebemos a informação de que partiríamos na segunda feira dia 04 de março bem cedo e teríamos muito trabalho noite a dentro desmontando o restante da estação. A saudade já começava a bater antes mesmo de partirmos.  Mas tínhamos a satisfação do dever cumprido e partiríamos com mais de 65.000 QSO’s em nosso log, o que depois viria a se confirmar ser o Record sulamericano até a data, em número de QSO’s, feitos por uma única expedição. Outro Record também ficou estabelecido sendo trabalhados 87 paises em 13 dias de operação na banda de 6 metros e o mais importante de tudo, mostramos ao mundo que o Brasil também pode organizar uma expedição de grande porte, com operadores gabaritados e bons equipamentos.  

Foram mais 3 dias de viagem de volta para o Rio de Janeiro. O mar continuava calmo e tudo transcorreu na maior normalidade. Que alívio quando vimos o continente novamente na manhã do dia 07 de março, pois a saudade de casa já apertava em todos. Foram ao todo aproximadamente 23 dias longe de nossas famílias, trabalho, enfim longe do mundo!.

Conhecer Trindade é um privilégio para poucos brasileiros e face a isto nos sentimos abençoados e gratos por poder ter proporcionado a alegria a muitos radioamadores de ter o contato com PWØT em seus log’s. Uma experiência que sempre carregaremos em nossa memória e torcendo para que um dia possamos retornar para este lugar mágico.

Agradecimentos se fazem necessários, mas temos o receio de esquecer de nominar algum companheiro.

Temos que agradecer a Deus pelo sucesso de nosso projeto. Tudo deu certo. Especiais agradecimentos a Marinha do Brasil, que através do Comandante Cabral, do 1º Distrito Naval, Comandante Tarso, do Navio Mattoso Maia, Imediato Gentil também do Navio Mattoso Maia e toda a sua tripulação e ao Comandante Elmo do POIT e sua equipe, que fizeram de tudo por nós e são também responsáveis diretos pelo sucesso de nossa expedição. Jamais esqueceremos o que eles fizeram por nós. Agradecimentos ao Atilano PY5EG que apesar de não ter ido conosco, esteve presente o tempo todo, nos acompanhando e dando o suporte necessário. A Sonia Bombardelli, sua secretária que com habilidade e competência resolvia todas as nossas dificuldades e nos dava força na difícil missão. As nossas famílias pelo apoio e por suportar nossa ausência por tão longo período e finalmente a todos que entraram no log de PWØT e os que de certa forma torceram por nós.

Até a próxima expedição. Forte 73s a todos da equipe de PWØT. Araucária DX Group !.